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Entrave ao turismo
O Rio é vocacionado para o mundo visitar. “Só precisa acender a luz e botar a bilheteria na porta”. Quem diz isto é Roberto Medina, um dos mais destacados realizadores internacionais de grandes eventos musicais. Em 1980, ele colocou Frank Sinatra no Maracanã, em meio a 175 mil pessoas, até hoje um imbatível recorde, registrado no Guinness. Depois, espalhou globalmente a marca Rock in Rio.
Medina fala de um Rio repleto de atributos singulares, com o Cristo Redentor de braços abertos sobre a Guanabara. São as montanhas, a floresta, o mar, o colorido balé das calçadas, a musicalidade e a descontração. Foi por tudo isso que, mesmo com orçamento apertado, o Rio fez a mais criativa e bela cerimônia de abertura dos Jogos da era moderna. O que antes já era bom ficou ainda melhor após a Olimpíada.
A rede hoteleira expandiu-se. A cidade ganhou metrô, BRT, VLT, Museu do Amanhã, Porto Maravilha, a revitalizada Praça Mauá e o Parque Olímpico da Barra da Tijuca — é lá que se realizará o Rock in Rio 2017, na segunda quinzena de setembro. Terá público superior a 700 mil pessoas. E terá um mundaréu de fornecedores terceirizados para serviços diversos: bilheteria, estacionamento, vigilância, limpeza, bebidas e comidas etc.
No geral, parece tudo OK. Mas não é bem assim. O turismo carioca carece de gestão arrojada. Continua acessório à administração pública. O secretário municipal do setor teria de ser tão poderoso quanto o prefeito, como é em Nova York ou Paris. Há uma urgente missão a ele destinada: lutar pela modernização da legislação trabalhista de 1943, que mantém a rigidez dos três turnos e das 44 horas semanais.
Em todas as nações, exceto no Brasil, há a opção do part-time contract. Atende a especificidades de horários e dias. Por exemplo: o garçom que reforce a equipe nas noites estendidas de sexta e sábado, e ainda ao longo dos domingos. Do mesmo modo, há o formidável exército dos que, antes e depois dos shows, transportam, montam e desmontam os palcos, a iluminação, o som. Para eles, vigoram mundo afora contratos de horários e dias pré-definidos, com os direitos plenamente incluídos: férias, décimo terceiro, FGTS, aposentadoria etc.
Vivemos a era dos serviços. Não mais a do filme em que Charlie Chaplin, enlouquecido de tanto apertar parafusos, é engolido pela máquina. Já não cabe a rigidez fordiana de 1943. Neste descompasso, aqui distribuem-se multas a esmo. As informações correntes são de que no Rock in Rio 2015 as multas a terceirizados superaram R$ 20 milhões. Cerca de 500 empresas terceirizadas foram autuadas na Olimpíada.
É, pois, um absurdo que a proposta do trabalho intermitente tenha sido retirada da pauta de reformas que está no Congresso. Isso precisa ser revertido. Uma tarefa para o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.
Com um turismo do século XXI, o Rio sairá da crise. Ajudará o Brasil a sair da crise.
Paulo Solmucci é presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
Fonte: Artigo publicado no jornal O Globo