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Declínio dos food trucks leva empresários a migrar para loja
Com o enfraquecimento da moda dos food trucks, empresários do ramo estão apostando na abertura de lojas e em eventos corporativos e gastronômicos para sobreviver. O produtor Osvane Mendes, que indica caminhões para eventos, já teve 400 empresas em sua base de contatos, no auge do movimento, em 2014. Atualmente, a lista não chega a 150. “Há entrada em shoppings ou eventos corporativos. Mas, antes, os próprios caminhões puxavam o público. Hoje, as pessoas querem uma banda ou atividades infantis para ir até o local”, diz Mendes. O empresário José Monteiro Júnior, 46, é dono de um food truck especializado em cachorro-quente e oferece porções “gourmetizadas”, com ingredientes artesanais.
“Com os trucks, vi que havia demanda para um plano antigo, de trazer salsichas e pães de qualidade superior. Quando entrei no ramo, em 1999, ainda como ‘dogueiro’, seria chamado de louco se vendesse um produto assim.” Deu certo no início. Em 2014, Monteiro abriu o primeiro food truck da J-Dog’s, que faturou R$ 300 mil em um ano. Em 2016, mesmo com um novo caminhão, faturou R$ 130 mil. E, agora que o interesse do público diminuiu e a legislação paulistana não permite que os carros circulem pela cidade, a solução foi investir em eventos.”É uma alternativa vantajosa, mas temos que repassar parte do lucro aos produtores”, afirma Monteiro.
Negócio da moda
Para Pedro Zanni, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), quem quer aproveitar as novas modas deve tomar cuidado para não dimensionar a demanda com base nesse pico de consumo. O ideal é adaptar o modelo de negócio para contemplar um ciclo mais curto de vida. “No ramo de restaurantes, muitos empresários desenvolvem um plano de três anos”, afirma. “A ideia é conceber uma operação enxuta, mas que permita um retorno mais rápido sobre o investimento.”
Reposicionamento
Enxugar os custos fixos foi a estratégia de Raphael Corrêa, 34, e Juliana Moreira, 33, do Massa na Caveira. A empresa começou como um food truck de pizzas em 2014 e abriu há cerca de um ano uma loja no Tucuruvi (zona norte de São Paulo). “Em vez de ficarmos reféns de eventos ou da lei, achamos um local com aluguel mais barato e baixamos o preço para fidelizar o cliente”, diz Corrêa. O faturamento deve chegar a R$ 500 mil neste ano, contra R$ 400 mil em 2016. “Do ponto de vista financeiro, vimos que a estrutura fixa faz mais sentido que o caminhão”, afirma Corrêa.
Agora, o caminhão só sai da garagem para alguns eventos, como festivais de cerveja, e virou parte da estratégia para popularizar a marca. Para sobreviver no mercado, o empreendedor também precisa prestar atenção nos movimentos da concorrência, diz o consultor do Sebrae Henrique Romão.
A observação pode ajudar o empresário na identificação de possíveis lacunas na oferta dos serviços e na busca por novas ideias, que podem se tornar um diferencial. Letícia Menegon, coordenadora do Centro de Empreendedorismo da ESPM, segue na mesma linha.
“A maioria dos empreendedores de ramos que estão na moda não sobrevivem porque oferecem um produto apenas mediano, quando deveriam achar uma receita ou um serviço superior aos oferecidos por tantos concorrentes”, afirma Menegon. E, se é muito fácil replicar o modelo de negócio ou até mesmo a receita dos produtos, é preciso ficar alerta, pois a empreitada pode terminar em falência rápida, acrescenta a coordenadora da ESPM. “E quem não tem experiência no setor deve cogitar passar uma temporada curta em um negócio já estabelecido, para entender como funciona o mercado. É uma estratégia comum no meio de franquias”, diz Romão.
Fonte: Folha de São Paulo