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Restaurantes se recuperam e projetam margem de lucro maior
A crise que fez um entre cada seis restaurantes fechar no país nos últimos dois anos dá sinais de ter arrefecido, com indícios de início de retomada nas vendas e na rentabilidade dos negócios. Apesar do aumento da informalidade, que afeta operações já estabelecidas, o crescimento no tráfego tem sustentado o início de uma recuperação desde o fim de 2017.
Empresas ouvidas pelo Valor dizem que, além de volume maior de vendas, a deflação de alimentos e a queda em despesas operacionais – especialmente com reajustes salariais mais baixos no segundo semestre de 2017 – ajudam a sustentar melhora nas margens. “Projetamos orçamento para 2018 com vendas e lucro 15% superiores a 2018”, diz Ricardo José Alves, presidente da Halipar, holding que reúne as redes Griletto, Montana Grill, Jin Jin Wok, Jin Jin Sushi e My Sandwich.
Levantamento da Abrasel, feito com 833 empresas, mostra que pela primeira vez desde 2014 há mais companhias (36%) com expansão no faturamento do que com retração (34%). Os dados foram finalizados dias atrás e se referem ao período de julho a setembro. Um ano atrás, a fatia de empresas com vendas em alta era de 22% e 50% sentiam queda. Sobre rentabilidade, 34% das empresas afirmaram melhora nesse indicador, três pontos percentuais acima do verificado no segundo trimestre, enquanto a fatia dos grupos que indicaram piora caiu de 33% para 25%.
Entre as 883 empresas pesquisadas, 71% operavam com rentabilidade de até 10% no trimestre, e 29% com margens negativas. Há um ano, as taxas eram de 61% e 39%, respectivamente. “O terceiro trimestre sinalizou uma recuperação que, pelos dados preliminares, se intensificou no quarto trimestre. Esse movimento tende a se manter em 2018, em parte por conta da queda na inflação, que tem elevado a renda disponível”, diz Paulo Solmucci, presidente da Abrasel. A entidade projeta alta real de 4,5% no faturamento em 2018. Em 2017, o aumento teria ficado entre 2,5% e 3%.
Dados publicados na semana passada mostram aumento de 3,5% no fluxo de clientes em shopping centers em dezembro. Cerca de 10% da área de shoppings hoje é ocupada por restaurantes. Na avaliação de Cláudio Miccieli, sócio e diretor-geral da rede de restaurantes Giraffas, há menor pressão em itens considerados regulados, como energia elétrica, ao mesmo tempo em que a deflação de alguns alimentos contribuiu para pressão menor nos custos operacionais, aumentando espaço para recuperação dos balanços.
“Houve queda na relação entre receita líquida e despesas operacionais em 2017 sobre o ano anterior”, diz. “Para 2018, os ganhos devem vir mais de um aumento do tráfego de clientes do que pela elevação nos valores dos tíquetes [gasto por cabeça]”. Apesar de um cenário econômico mais favorável, diz ele, ainda há uma massa salarial afetada pelo aumento recente do desemprego, e isso continua a manter o ambiente muito propício a promoções.
“O retorno desse cliente ocorre de forma gradual. Mas acreditamos que, considerando os ganhos em revisões de despesas e custos, há espaço para apresentarmos algum ganho em margem Ebitda [lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação] em 2018 “, disse Miccieli. Em 2017, o Giraffas registrou receita de cerca de R$ 680 milhões, estável em relação a 2016. A empresa tem no momento 26 restaurantes contratados para abertura em 2018. A rede soma cerca de 400 unidades.
A Halipar verificou que o aumento na demanda nos pontos tem ocorrido de forma menos instável. “Não há tantos altos e baixos como se viu um ano atrás, quando a venda subia e caía, a depender do mês. É uma alta gradual, mas constante. O fato de estamos trabalhando hoje bem abaixo daqueles índices de dissídio de 8% a 10% ao ano, como em 2017, também pressiona menos [os resultados financeiros]”, disse Alves, presidente da companhia que controla redes como Griletto e Montana Grill.
Se atingir a previsão de alta de 15% em vendas e lucro, como previsto, a Halipar ficará acima da verificada em 2017, quando o crescimento nos dois indicadores foi de 12%. “A melhora nos resultados tende a se consolidar via aumento da demanda das famílias, no consumo dos restaurantes no fim de semana. Há mais espaço para algum ganho aí, do que pela demanda gerada pelo trabalhador que vai à praça de alimentação durante a semana”, disse Alves.
Fonte: Valor